Conto: Rio Além
E virando na esquina no esquecimento, a velha companheira, sempre a espreita veio me saudar. Disse a ela que sabia que logo a veria, mas não sabia que ia ser tão rápido. Olhei bem no fundo dos seus olhos vazios, dois buracos me olharam de volta. Antiga amiga, enfim a reencontrará para mais uma vez deixá-la me guiar.
Ela começou a caminhar na dianteira, com a calma certeza de que eu a seguiria, como sempre. E que escolha eu tinha? O vento gélido cortava a pele, naquela terra que parecia ser sempre o mesmo dia e o mesmo tempo. Será que só parecia? Era uma contradição perfeita com o que estava à frente.
A companheira para e me encara firmemente com suas duas covas abertas. E,logo, eu já entendi o que teria que fazer. A partir daqui eu iria só. Ela me disse pra entrar no Rio, com a voz grave que nunca saiu de sua boca. E é aqui que começa e termina tudo. Cruzando o Rio e indo para Além.
Um último olhar para trás e um passo a mais no Rio. Rio ou fogo o que me consumia? Outro passo e cada centelha do meu corpo ardia! Outro passo e meu sangue pulsava em fogo vivo. Outro passo e mais outro, até o corpo estar todo envolto pelas chamas das águas e eu já não era eu. Eu era fogo, eu era rio, eu era a vida e eu já não existia.
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